Mafalda arnauth

Marujo portguês

Mafalda arnauth
Quando ele passa, o marujo português
Não anda passa a bailar como ao sabor das marés
Quando se ginga, põe tal jeito, faz tal proa
Só p’ra que se não distinga se é corpo humano ou canoa

Chega a Lisboa, salta do barco e num salto
Vai parar à Madragoa, ou então ao Bairro Alto
Entra em Alfama, e faz de Alfama o convés
Há sempre um Vasco da Gama, no marujo português

Quando ele passa com seu alcache vistoso
Traz sempre pedras de sal no olhar malicioso
Põe com malícia a sua boina maruja
E se inventa uma carícia, não há mulher que lhe fuja

Uma madeixa de cabelo descomposta
Pode até ser a fatexa de que uma varina gosta
Sempre que passa, o marujo português
Passa o mar numa ameaça de carinhosas marés

Quando ela passa franzina e cheia de graça
Há sempre um ar de chalaça no seu olhar feiticeiro
Lá vai catita, cada dia mais bonita
E o seu vestido de chita tem sempre um ar domingueiro

Passa ligeira, alegre e namoradeira
E a sorrir p'ra rua inteira vai semeando ilusões
Quando ela passa, vai vender limões à praça
E até lhe chamam por graça, a Rosinha dos limões

Quando ela passa junto da minha janela
Meus olhos vão atrás dela até ver da rua, o fim
Com ar gaiato, ela caminha apressada
Rindo por tudo e por nada e às vezes sorri p'ra mim

Quando ela passa apregoando os limões
A sós com os meus botões, no vão da minha janela
Fico pensando, que qualquer dia por graça
Vou comprar limões à praça, e depois caso com ela

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