Marcello gugu

Guerreiros andam só

Marcello gugu
Nós nascemos em meio á desordem, caos e confusão
Um misto de conto de fadas, poesia e maldição

Crescemos em meio aos anos 90
Aonde a maioria em 2000, se matou pelas de 50

Imitávamos Michael nos passos de Thriller
Enquanto esquinas lá fora fabricavam serial killers

Descobrimos que nosso ideal não morria por nada
E que nossos sonhos recriavam o mundo a cada madrugada

Contaram sobre ancestrais e dias de glória
Hoje sabemos do nosso futuro, pois conhecemos nossa história

Somos chefes de tribo de nações sem bandeira
Bloqueia-se uma gota d’ água, mas guerreiros são cachoeira

Dizem que somos rebeldes sem uma causa aparente
Triste é quando sonhos frustrados viram balas no pente

Fogos de artifício em um dia sem futebol
De um universo em desencanto somos as lagrimas do Sol

Descendemos de Yorubás, Ashantis, Carijós
Um dia fomos reis, hoje guerreiros que andam só

Tristeza se alongam enquanto homens desabam
Meu coração vira sonata, somos paixões que acabam

A gente parte corações e nem olha pra trás
Apelidos e historias tornam tragédias imortais

Lendas de homens intocáveis perpetuam legados
Mas não contam nossos feitos, sussurram nossos pecados

Somos episódios passionais cujo fim é uma apoteose
A revolução em silêncio e os heróis que morrem de overdose

Somos crise de ciúme e expectativas em extinção
Malotes de presidentes mortos levam meus amigos pro caixão


Das cinzas as cinzas do pó ao pó
Atrás de linhas inimigas guerreiros andam só.

Nos deram oportunidades, as piores possíveis
E hoje somos as dores de amores impossíveis

Deus sabe dos destinos de cada um
E a estatística sabe dos destinos em comum

Elas querem Prada, eles querem prata
Perolas são grãos de areia e por areia a gente se mata

Castelos feitos de carta, blefes de amadores
Reis da guerra em suas cabeças levam coroas de flores

Somos nomes de batalhas, mães que esperam na varanda
Velhices em corações jovens, somos os filhos de Ruanda

Nós entramos no jogo sem a pretensão do empate
Não proposito pra nós se não morrermos em combate

Fomos feitos pra isso, a brisa é o prelúdio da ida
Existência intensa e rápida como tudo que é bom na vida

Somos o pra sempre mais breve, um sacrifício em estrelato
Os bons morrem cedo e guardam dinheiro em caixas de sapato

Somos guerras particulares, historias sem continuação
Acreditamos em Deus, mas não esperamos salvação

Somos os anjos que perderam as asas
Estigmas, ilusões e veteranos longe de casa

Nosso tempo na Terra é estável igual nosso humor
Enquanto esperamos o fim do mundo fazemos promessas de amor

Somos as vidas que rua fez e as vitimas que a rua faz
Hey bravo mundo novo, somos fabulas sem morais

Beijos intermináveis enquanto o sol muda de posição
Rostos anônimos e cobertos a espera da rebelião

Coração cigano e oração de catimbó
Em núpcias de marinho aprendermos a sermos só.

Somos new school igual freestyle, old school igual jongo
Linguagem transgressora rato não é camundongo

Queimaremos outdoors e essa revolta não é só minha
É dos que cansaram das migalhas e hoje vão tomar a cozinha

Somos as crianças que só conhecem o pai por foto
Nossos pés pesam chumbo, nossa marcha causa terremoto

A gente cria motins quando eles não tão olhando
Pois assim eles não vão ver a revolução chegando

Somos os que não voltam, o joio em meio a seara
Sempre estivemos no mainstream, nunca mostramos a cara

Mas não odeie o jogador odeie o jogo
Celebre a vida comigo hoje, amanhã meu mundo pega fogo

Ataca-se quem nem conhece, combate-se sem ter porque
E a guerra some com a poeira junto do amanhecer

Mil a direita, a esquerda e os que não foram atingidos
Hoje cultivam girassóis em corações deprimidos

Somos romances bandidos e flertes de boa fé
Dessa vez a gente morre sabendo o quão bonito a gente é

Eles dizem que somos jovens demais pra morrer
Guerreiros como eu esperam a morte pra começar a viver.

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