Belmonte e amaraí

Lamento de caboclo

Belmonte e amaraí
Por um trilho estreito entre samambaia
De chapéu de palha eu ia pra mina
Enchia o corote com a canequinha
De água fresquinha, limpa e cristalina

Depois me sentava no barranco ao lado
E entusiasmado eu ficava olhando
A queda da água rodando o moinho
E no ribeirãozinho o monjolo malhando

À tarde eu deixava o monjolo parado
E o arroz socado levava pra janta
Corria na venda, comprava envelope
Voltava à galope num cavalo pampa

Tomava um traguinho, jantava bastante
Achava importante escrever pros parentes
Contando que a roça estava limpinha
E que ninguém tinha ficado doente

Mas minha pobreza foi contaminando
E aos poucos tirando esta felicidade
Deixei minha roça, meu berço sagrado
Me vi obrigado a mudar pra cidade

Passei a comer arroz de pacote
Troquei o corote por filtro esmaltado
Nem carta escrevo, pois vivo sozinho
Só vejo moinho no supermercado

Se vejo monjolo, é movido a motor
Só em casas de flores vejo samambaia
Mas fico orgulhoso por ver margaridas
Limpando avenidas de chapéu de palha

A grande saudade que tenho guardada
Será revelada se um dia eu voltar
Então pedirei perdão ao presente
Pra eternamente na roça eu ficar

Encontrou algum erro na letra? Por favor envie uma correção clicando aqui!