Ensaio de guerra

Passeio público

Ensaio de guerra
É um menino
É uma calçada
É o rosto de alguém
Multiplicado em vários saltos
Sóbrios qual se vêem
Pessoas andam
Tal e qual seus saltos que já caem
E a rotina dos explorados como o sol se vai
A noite vazia
Descansar pro dia nascer e voltar

É o menino
É um destino na linha do trem
É o descarrilo do fardo que já nasceu refém
O asfalto aquece ouve-se preces
Juízos finais
Do pregador que atira pragas a seus não iguais

É correria, é gritaria, é a perseguição
Entre gravatas
Celulares
Brados
Esbarrão
Olhos cruzados
E o menino que antes não se via
Agora é o alvo perpétuo da velha artilharia

Já conhecia o fim da linha antes de enxergar
Na dor tecia a lágrima que sabia, não iria chegar
No seu lar
Que não havia

Um dorso liso
Um punhal
Um rosto,
Um vento,
Um final

É o cansaço que transborda das altas janelas
Na paisagem de imóveis expressões banguelas
Um piso em falso
E o cadafalso se ergue na calçada
Fecham sinais, chegam chacais
Coturno, chumbo e farda

É o menino, é o sangue, é a bala, é chão
É um pano, é um muro, é a televisão
É a noite que chega, é a rua vazia
É um menino, é rotina
É só mais um dia

Dá-se então, o efeito capital
E o colo é terra e pedra
E esse fardo então se vai
Sem se libertar da história e o dia a dia que teimam distorcer
Balas ao alto, cabeça, asfalto
Não pare de correr!

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