Jader duarte

Escritos do tempo

Jader duarte
“Se o tempo me trouxe aqui, sigo este rumo e me vou!
Se o tempo existir de fato e fez de mim cicatriz
Hei de ser somente o cerne daquilo que me tocou
Se o tempo já é passado, serei eu, só um retrato
Amarelando a retina naquilo que me sobrou

Se fui as cordas que usei, tive a crueza inicial
De quem anunciou bagual por força das precisão
Depois ao passo que pude, sovado e macio de trança
Me entreguei de alma mansa pras baldas do coração

E então percorri caminhos no olhar de tanta china
Amaciando uma sina de ser sozinho por gosto
Desfiz marcos de fronteira e me voltei ao que era
- Quem tem cismas de tapera, traz o seu tempo no rosto

Se fui o gado berrando num cruzo estreito de sanga
Tive o doce das pitangas das picadas que cruzei
Mas antes tive o amargo do adiante do pouco ou nada
Sovando de casco a estrada, pra o futuro que campinei

Se fui sereno na terra chamando o Sol pra um verdejo
Igual quem espera um beijo pra renascer num encanto
Estive na pá do arado, no ajoujo do boi de canga
E agora sou chuva em manga se a seca sovar o campo

Se fui duende de guitarra, a noite sempre foi pouca
Pra sussurrar de voz rouca o Rio Grande que é meu trilho
Se o tempo sovou meu ontem e fez aquilo que deu
Eu voltarei a ser Eu regendo a vida de um filho

Se fui nos clarões de lua um tranco largo a esmo
Aqui cantarei eu mesmo, espinho e flor aromando
Se fui maula corcoveando, agora só troco orelha
Que da vida desparelha sobrou meu mundo pulsando

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