Mauro aguiar

Epidemia

Mauro aguiar
entre o sim e o não no altar
ouço um surdo soando macio
entre o delta e o leito do rio
um pandeiro
escondido entre o olhar derradeiro
e o primeiro suado arrepio
O apito de mestre fuleiro e a mulata no cio.

Entre o tapa e o beijo fatal
sinto o sangue azul do passista
entre o gelo e o olhar da conquista
Um enredo
Entocado entre o grito de medo
E o segredo que não deixa pista
O meu samba que feito um torpedo no mundo se arrisca

Entre o sal e o sussurro do mar
Um batuque de lata de cêra.
Entre o céu e a porta bandeira
Um atalho
Que começa num penduricalho
E termina na luz mandingueira
Que o meu samba derrama na luz da manhã brasileira.

Entre o som e o silêncio total
Ouço o tempo que taquicardia
Entre o sonho e a alegoria
Um desejo
Que esse cálido negro lampejo
Não se apague depois da folia
E o meu samba se vá alastrando feito epidemia.

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