Miro saldanha

Chegada

Miro saldanha
Eu tenho a sede nos lábios
De dores, a alma cheia
Nos olhos marejo ânsias de chegar
Eu venho de muito longe
De onde a fome campeia
Não trago histórias bonitas pra contar

Migrei de campo e semente
Pra não mais ter que semear
E herdei a sina inclemente
Dos que não têm pra plantar
Segui os rastros deixados
Pelos que ousaram sonhar
E os ossos dos desgarrados
Me diziam pra voltar

Voltei pra o berço da Pampa
De onde, um dia, parti
Reconheci minha estampa
Em cada sanga daqui

Meu zaino, quase cansado
Fareja o chão da querência
Juntando as forças que restam pra chegar
Andei por terras estranhas
Cinchando a sobrevivência
Mas o que deixei aqui, não tem por lá

Só trago versos tristonhos
Que a solidão faz cantar
Na concha das mãos, os sonhos
Que ainda pude salvar
Segui os rastros deixados
Pelos que ousaram sonhar
E os ossos dos desgarrados
Me diziam pra voltar

Voltei pra o berço da Pampa
De onde, um dia, parti
Reconheci minha estampa
Em cada sanga daqui

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