Arthur mattos

Ressaca das cheias

Arthur mattos
Escoa o manto das águas no cepilhado da várzea
Destapando sanga e passo que afogaram o Santa-Fé
Entre a grama a boiadeira, suspensa sobre o banhado
Exalta o azul desbotado da linda flor do aguapé

Uma vaca redemunha, mugindo grosso e tristonho
Empurrando seu terneiro pra ressaca da crescente
Se atira, escorando a cria entre a paleta e o vazio
Costeando a barranca do rio contra os resquícios da enchente

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
Com a mesma força das águas
Também afogo minhas mágoas
No manancial das pupilas

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
C'o a mesma força das águas
Também afogo minhas mágoas
No manancial das pupilas

A crescente se destapa deixando sempre armadilhas
Trampas de olho de boi com flechilhas rebrotadas
Atoladouros profundos formando belas miragens
De verdejantes pastagens sobre o mundéu das aguadas

O campo enxuga as águas mas não apaga a ressaca
Ficou de herança da cheia alguns touros estaqueados
Ossamentas pelo passo e um varal de palha estendida
Da macega ressequida nos sete fios do alambrado

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
C'o a mesma força das águas
Também afogo minhas mágoas
No manancial das pupilas

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
C'o a mesma força das águas
Também afogo minhas mágoas
No manancial das pupilas

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